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Quem controla a rua, controla a opinião pública

Quem controla a rua, controla a opinião pública

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Durou 50 anos, entre 1964 e 2014, a exclusividade da esquer-da nos protestos brasileiros. Considerando as greves sindicais dos anos 70 que lançaram Lula ao estrelato político nacional, as Diretas Já, os caras-pintadas de Collor e as recorrentes passeatas de sindicatos, o monopólio das ruas estava claro.

Em 2014, no entanto, a curva se inverteu. Os ditos cidadãos de bem vestidos de verde-e-amarelo tomaram conta de vez, inibindo quase por completo as manifestações em contrário, exceção a um solitário dia de setembro de 2018, quando o #elenão dominou o país, mas teve seu impacto minimizado por conta da fatídica facada sofrida pelo então candidato à presidência Jair Bolsonaro.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, em SP.

De fato, manifestações geram resultado. Seja direto, como a queda de 2 presidentes eleitos, ou como mantenedor do moral do grupo, deixando-o sempre o mais alto possível.

A entrega das ruas para a direita fez parte de um aspecto que fundamenta a necessidade de manifestações: protesta aquele que está fora do poder.

O PT e a esquerda se acostumaram com o poder e os elementos intrínsecos a ele e perderam o fio da mobilização de base que provoca estardalhaço e junta gente. Com três mandatos presidenciais consecutivos garantidos e mais um por vir, a esquerda desaprendeu a ser oposição.

Na disputa pela praça  pública, os adeptos do lava-jatismo saíram na frente, mas, por fim, cederam vez ao Bolsonarismo, que mantém sua posição firme de controlador das ruas.

Uma vez no Governo, seria natural que a direita abdicasse da gestão da opinião pública nas ruas. Mas eles sabem perfeitamente do poder que as manifestações possuem para mandar mensagens, pressionar autoridades e reforçar narrativas. Com isso em mente, abrir mão das ruas seria contraproducente às intenções do Planalto.

Para isso, entretanto, seria necessário criar um tipo de manifestação jaboticaba: aquelas a favor do governo.

Com o financiamento mantido dos empresários, turbinado por orçamentos de gabinete e de propaganda federativa, tudo em nome da campanha eleitoral que nunca termina e dos inimigos imaginários que permanecem criando, personificados no vilão vez, as ruas se vestiam de verde-e-amarelo para pedir liberdade às inconsequências de Bolsonaro e sua tropa.

Mas a investigação da CPI das fake news interrompeu parte do fluxo de recursos de empresários bolsonaristas para que os “protestos” se repetissem com a mesma ênfase. Simultaneamente, o STF ataca alguns grupos específicos que desafiam a democracia, como os infames 300 de Sara Winter. Mesmo sob a proteção imoral de Augusto Aras, políticos da base governista estão sendo investigados. Enquanto isso, a Polícia Federal resiste a um aparelhamento paralisante e fecha o cerco contra os filhos do presidente.

É em meio a uma reação coletiva que as torcidas organizadas deram o pontapé inicial para a retomada das ruas, validando uma manifestação sem a presença verde-e-amarela para este domingo, 8 de junho. E Bolsonaro sentiu o golpe.

Sabe que está em jogo o controle das ruas. E, mais importante, sabe que perder a hegemonia das manifestações significa a pá de cal que vai enterrar de vez o seu governo, sem possibilidade de permanência, por mais acordos que tente costurar com o Centrão. Sem as ruas, Bolsonaro cai.


Artigo na edição #1 da Papo de Galo_ revista, em 05 de junho de 2020.

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