Amigo me procura e me pergunta se a escolha de Mônica Calazans para ser a primeira pessoa a ser vacinada em São Paulo tinha cunho eleitoreiro-militante.
Esse questionamento me fez fazer um exercício de associação que volta ao movimento de Black Lives Matter.
Durante os protestos por ocasião do assassinato de George Floyd, usou-se dizer que, na verdade, todas as vidas importam. Quem repete essa frase tem a cor da pele bem de certo tom. Aquele tom de que inventou o racismo e o mantém vivo e ativo, mas com um toque odara-namastê de coisa boa e sentimentos de igualdade.
Lindo, não? Não.
Porque o conceito presen-te tanto no todas as vidas importam quanto na per-gunta inocente pero no mucho de meu amigo é o fato de que a branquitude – da qual faço parte, não me excluo e reconheço os privilégios que a cor da minha pele proporciona – não consegue conceber que um negro tenha sido escolhido, para o que quer que seja, por MÉRITO.
Não. Não há mérito.
Há, no máximo, lacração.
É exatamente o que baliza a fala de Cristina Junqueira, CEO e fundadora do branco-como-a-neve Nubank no Roda Viva, da TV Cultura, que quando indagada sobre a ausência de executivos negros na empresa, respondeu que não poderia forçar a miscigenação para não “cair o nível” da empresa.
Mônica Calazans é a cara do povo brasileiro. Negra, pobre, mulher que sustenta os filhos na unha e batalha, como pode, por uma vida mais digna. Se houvesse uma descrição do povo brasileiro, separando por segmentações interconectadas, ia dar exatamente na foto de Mônica.
Mas não. Ela estar ali, ocupando lugar de destaque, na frente de todos, só pode ser lacração. Negro não pode merecer reconhecimento. E o gesto dela de punho erguido, para além de uma comemoração, é uma bela de uma banana a quem ainda se aninha na infâmia.
Artigo para a Papo de Galo_ revista #10, de 29 de janeiro de 2021, páginas 37.
Contribua!
Você pode contribuir de diversas maneiras. O mais rápido e simples: assinando a newsletter. Isso abre a porta pra gente chegar diretamente até você, sem cliques adicionais. Tem mais. Você pode compartilhar este artigo com seus amigos, por exemplo. É fácil, e os botões estão logo aqui abaixo. Você também pode seguir a gente nas redes sociais (no Facebook AQUI e AQUI, no Instagram AQUI e AQUI e, principalmente, no Twitter, minha rede social favorita, AQUI). Mais do que seguir, participe dos debates, comentando, compartilhando, convidando outras pessoas. Com isso, o que a gente faz aqui ganha mais alcance, mais visibilidade.
Livros!
Ah! E tem também os meus livros! “Futebol é uma Matrioska de Surpresas” (2018), com contos e crônicas sobre a Copa do Mundo da Rússia, está em fase de finalização de sua segunda edição. Além disso, em dezembro de 2020 lancei meus 2 livros novos de contos e crônicas, disponíveis aqui mesmo na minha loja virtual: “A inescapável breguice do amor” e “Não aperte minha mente“.
Apoie: assine a Papo de Galo!
Mas tem algo ainda mais poderoso. Se você gosta do que eu escrevo, você pode contribuir com uma quantia que puder e não vá lhe fazer falta. Estas pequenas doações muito ajudam a todos nós e cria um compromisso de permanecer produzindo, sem abrir mão da qualidade e da postura firme nos nossos ideais. Com isso, você incentiva a mídia independente e se torna apoiador do pequeno produtor de informações. E eu agradeço imensamente. Aqui você acessa e apoia minha vaquinha virtual no no Apoia.se.