Está no Brexit. Está no Rio. Está na Colômbia. E passou a estar ontem nos EUA.
A chave para estas últimas eleições não é a vitória da direita sobre a esquerda. Não é o conservadorismo sobre o liberalismo. Tendemos a ideologizar ações, tudo faria muito mais sentido. Não é o caso.
Há um outro aspecto que se observa nos mapas de votação em cada caso: o simples historicamente ignorado sobre o arrogante evoluído da cidade grande. E conseguir o voto deste público é questão de saber comunicar-se com este público.
Assim Lula e Dilma foram eleitos, e o PSDB esmurrou facas porque não soube falar a mesma língua. No Brexit, o interior foi fortemente a favor. No Rio, as zonas Norte e Oeste calaram a hipster zona Sul. Agora, Trump.
Especificamente nos EUA, o efeito não é regional. Pegue qualquer mapa de qualquer estado americano. Nas grandes cidades, vitória avassaladora dos democratas. Cercadas por um mar vermelho.
O que fez Trump tão forte, então?
Pouco é decidido fora da cidade grande. O nível de negligência ao americano médio é atroz. É no interior que o desemprego bate forte. É no interior que a pobreza (não aquela de homeless nas capitais) aperta. É no interior que o ressentimento existe pesado contra a cidade grande.
Há um sentimento de que os urbanos se sentem superiores – alô, Freixo!
Daí surge o fator comunicação.
Trump possui discurso absurdamente simples. Vazio. Fácil de entender. Jogue na equação um monte de dados fabricados, mentiras que, mesmo desmentidas, causam estrago, e reforçam o imaginário popular. Que vai ao encontro do que pensa a massa interiorana americana. Enquanto isso, Hillary chega cheia de retórica e nada de carisma.
Era complicado lutar contra. Hillary não é uma figura como a de um Barack Obama e seu carisma fora do padrão.
Trump foi o achincalhado pela opinião pública. Por sua aparência. Por ser bufão. Por ser raso de pensamento. Por ser personalista ao extremo. Por ser o cara de fora do establishment que não tinha nada a perder.
Trump É o americano médio do interior. Representa o grito contra o status quo. É o ressentimento transformado em voto.
O que eles têm a perder?
Tanto foi uma estratégia de comunicação seu personagem durante a campanha, que o discurso após a confirmação da vitória foi estranhamente sereno. Estranhamente porque estávamos acostumados com o Trump da campanha. Aposto que muito do que prometeu na campanha será derrubado por causa do limite do possível: o muro do México, o questionário de entrada no país, abolir islâmicos, expulsar imigrantes… Absolutamente nada disso vai pra frente.
Mas o prazer para o John e Mary Smith no interior de poder dizer que é isso que quer é libertador. Não precisa de realidade, às vezes o desabafo é suficiente.