Neste fim-de-semana com amigos rolou uma piada interna ironizando todos aqueles que dizem “não que eu seja preconceituoso, MAS…” Pode ter certeza, essa frase é completada com algo absurdamente preconceituoso.
O início desta sentença que pode ser aplicada a qualquer coisa, como “não é que eu tenha nada contra nordestino, mas…”, ou “não é que eu seja homofóbico, mas…”, ou “não é que eu seja contra a liberdade de expressão, mas…”, ou “não é que eu ache que a arte tenha que ser limitada, mas…”
Bem, você entendeu a lógica. É uma tentativa tola de se amenizar algo profundamente estarrecedor que vem na sequência. Juntam-se dois trechos absolutamente contraditórios na mesma fala. O primeiro, o bonzinho, nascido para pintar de rosa o monstro que segue.
Assim é a sentença do juiz no caso da reorientação sexual. “Não é que se deva alterar a regra do CFP que claramente diz que homossexualidade não é doença, MAAAAAAAS…” É um disfarce mal construído, uma afronta que muita gente engole.
No fim, indubitavelmente, esta história toda não vai dar em nada. Primeiro porque o CFP continuará com autonomia para decidir sobre o tema, o que torna a decisão judicial inócua. Segundo que a dita psicóloga ganha mais seus 5 minutos de fama, e não muito mais do que isso. Terceiro que alimenta o posicionamento contrário, evitando qualquer chance de pesquisa, algo que vai contra a intenção inicial do proponente da ação. Quarto, quase todas as “conclusões” que tantos tiraram – acesso a plano de saúde, acesso a psicólogo, etc. – não muda NADA em relação ao que JÁ acontece, não há relação de causa e efeito.
“Leia a sentença!” dizem uns por aí. Pois então, eu li. Muitos, talvez, leram. O que quase todos não sabem fazer, infelizmente, é interpretação de texto.
No meio de uma baboseira sem sentido (tratar reorientação sexual como algo possível) e de uma inutilidade jurídica, está escondido, tão somente, um preconceito atroz e uma tentativa de interferência da lei em algo que não lhe diz respeito. Ou seja: nada de novo comparado ao que temos vivido nos últimos tempos. Trata-se, apenas, de mais um caso de preconceito aliado a uma síndrome de pequeno poder alimentando uma horda que quer legislar sobre o comportamento alheio.
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