Tinha sido uma manhã de muita caminhada pelo Centro Histórico de Ouro Preto. Cansados e famintos, paramos num restaurante famoso da cidade, que nos tinha sido recomendado, o Chafariz. Boa – e cara – comida mineira, com doces à vontade. Me ganhou pela oportunidade de me empanturrar de goiabada com queijo.
O restaurante estava cheio, quase inteiramente por jovens de uma renomada escola de São Paulo. Segundo o proprietário do restaurante, todo ano é organizada uma excursão para a antiga Vila Rica, liderada pelo professor de história. Vão de igreja em igreja, de ponto em ponto, de atração em atração, vivendo o que está estampado no livro-texto. Vivência sobre a leitura, pois além. Almoçam sempre no Chafariz, diz ele, deixando escapar um descontinho especial que garante a barriga cheia da molecada.
Era muito adolescente junto. E, como é absolutamente comum nesta idade, a segregação dos seus, cada um com seu cada qual. Identificar sua tribo é questão de sobrevivência, diz a evolução. Assim, de um lado, duas mesas grandes, somente meninos. Do outro, duas outras grandes mesas, somente meninas. Em apenas uma das mesas havia mistura de gêneros, mas não ache que isso era significativo de mistura, porque os quatro que ali estavam – 3 meninas e 1 rapaz – eram loiros como um Golden Retriever.
A dinâmica das mesas me despertou curiosidade.
Primeiro a das meninas. Nenhum celular à mesa. Elas conversavam animadamente, sem parar. Riam, falavam, prestavam atenção umas às outras. Jovens que estavam verdadeiramente felizes com a companhia em viagem das amigas de sempre. Não havia pausa. Um assunto puxava o outro, sem interferências, nem interrupções nem sobressaltos. Falavam e riam e falavam mais e riam mais. O mundo estava ali diante delas. O mundo ERA elas.
Já para os meninos, o mundo era a tela do celular. Não conversavam entre si. Caras tristes, distantes. De repente, um grupo de 4 meninos se levanta e vai para um canto. Será que estão pensando e decidindo o que vão aprontar, a peça que vão pregar? Decepciono-me. Não. Mostravam a pontuação em certo jogo, como eram bons.
Não existia conexão.
Não poderia ser mais diametralmente oposto ao perfil das meninas. A empáfia dos XY adolescentes era fútil e permanente. Se pudessem, estariam cada um no seu quarto jogando e sem precisar conversar com essa raça de gente ruim que são as outras pessoas. Uma melancolia de quem corre o risco de não aprender a interagir com outro ser humano, acostumados que se veem com a minúscula tela diante de si.
Olhei para trás e me vi na adolescência. Como eu quereria distância destes meninos, chatos, chatos, chatos. Me identificaria e me aproximaria do grupo que falava, se conectava e se divertia. Afinal, ora, elas quebravam a regra dos jovens do futuro, superficiais, a um braço de distância, sem conteúdo, cabreiros, perdidos e sozinhos. Passaria horas de papo pro ar, gente falando de gente com gente.
Leoni sacramentou: garotos, perto de uma mulher, são só garotos.
A elas pertence o mundo.
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