Nas eleições de 2002 o Brasil passava por um momento, como sói ocorrer de tempos em tempos, de transição. Na eleição, Serra e Lula disputavam a sucessão de FHC na presidência da República. O final todos conhecem, Lula em sua versão paz e amor foi eleito no segundo turno. Voltemos um pouco no tempo.
Em 1980 foi fundado o Partido dos Trabalhadores. Em 1989, Lula concorreu a presidente na primeira candidatura do PT à presidência e sua truculência como candidato levaram Collor a ser eleito. Com o tempo, o PT foi amansando seu discurso, era a oposição ferrenha que se tornou viável e descobriu o seu quinhão de votos: o Nordeste.
O que?
Um primeiro obstáculo era tornar-se a figura central de oposição em um estado em reconstrução política. Lula construiu a oposição em torno de si, e seu carisma e oratória ajudaram, claro.
Em 2002 o medo do enfrentamento foi dissipado durante a campanha. Lula entendeu aquilo que era necessário para ganhar. A segunda barreira era o medo da mudança. Ninguém queria o sapo barbudo como presidente.
A terceira barreira era obter tal nível de penetração em seu nicho que, mesmo em locais onde pode haver desvantagem (SP e PR, por exemplo), o reduto garantiria a margem necessária para serem bem sucedidos. A tão sonhada FIDELIDADE que toda empresa quer obter de seus consumidores. Você já tentou convencer um fã de Apple a mudar para Windows? Fidelidade sobrepõe a razão.
O que o PT sabiamente fez foi tornar-se o salvador do Norte/ Nordeste brasileiro. Outra vez, voltemos no tempo. Sempre, em qualquer momento da história, o Nordeste foi renegado por qualquer governante. Não havia indústria, infraestrutura, é árido em sua maior parte. Enfim, pouquíssima relevância econômica. E a relevância econômica sempre deixava estas regiões à mercê das políticas públicas. Não havia eleição, então pra quê, já que nem votos dá?
O governo, então, colocou o Norte/ Nordeste como alvo principal de seu governo. Olhou, de verdade, para a região. Nos últimos anos, se o crescimento do país é pífio, ainda bem que tem o Nordeste, porque é lá que o Brasil cresce. Assim, o sentimento daquele povo não é o de se sentir comprado pelo Bolsa Família ou qualquer programa assistencialista. O sentimento é de gratidão. E isso gera fidelidade.
Duvida o poder que isso possui? Basta ver a votação da candidata à reeleição na região, mesmo com dados em abundância para corroborar a percepção de um governo errático.
À eleição seguem-se palavras de ordem e argumentos de separatismo. Independência para SP! Muro para separar o Brasil! Pagamos a conta de vagabundos! E por aí vai. E o camarada lá no Nordeste olha aquele ódio todo e pensa: ainda bem que o ele não ganhou. Olha o que eles vão fazer com a gente.
Você pode ter certeza de que um país melhor se faria com Aécio. Mas este ódio tosco cria uma barreira intransponível: não é assim que se faz oposição. E somente faz aumentar a fidelidade daqueles que votaram com Dilma. Um baita de um tiro no pé.
Assim, ou o PSDB ou qualquer outro partido se comunicam melhor com este público ou estarão sempre fadados ao ostracismo e a muitos anos de governo petista. Repitam o que fez o Lula: amansem o discurso. E, de preferência, arrumem um candidato viável, que se torne a imagem da oposição unificada. Nesta eleição votou-se contra a Dilma. É preciso votar em alguém, não contra alguém, para ser presidente do país.