Quando decidi pelo tema desta terceira edição da Papo de Galo_ revista, senti muita insegurança, apesar da certeza da urgência que entendo ter.
A origem da escolha vem do vídeo da fatídica reunião de 22 de abril, quando o agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, destila sua característica ignorância e profundo preconceito ao assumir odiar o termos povos indígenas e evocar um ideal de nação.
Senti um frio na espinha. Porque o meu parco conhecimento na área me fez ter certeza de que se tratava de uma afirmação falsa, que legitimou movimentos autoritários e genocidas na história, ao mesmo tempo em que toca a muitas pessoas hoje em dia no Brasil. Ou seja: é tão falsa quanto aceita.
Reconhecendo minhas limitações no campo, propus-me a reunir um vasto grupo de estudiosos e conhecedores do assunto para ampliar o debate e estabelecer um diálogo franco, aberto, que fosse acadêmico e profundo, bem como informal e acessível. A pergunta-chave seria:
“Afinal, o que é o povo brasileiro?”
Para isso, seria fundamental reunir antropólogos, sociólogos, cientistas sociais, políticos, jornalistas, historiadores e lideranças indígenas e quilombolas, num encontro coletivo para sedimentação e fortalecimento de conceitos. Foi aí que a insegurança bateu.
Instantaneamente, percebi o tamanho que esse projeto poderia ter e a dificuldade de implementá-lo. A minha ambição, pois, talvez fosse maior que a factibilidade.
Duas conversas serviram para me acalmar os ânimos. Na primeira, Durval Lucas Jr, amigo administrador que assina um artigo nessa edição, tentou me fazer ver que onde havia intenção, havia possibilidade.
Na segunda conversa, desta vez com meu amigo herdado Eduardo Braz, pus-me, enfim, sossegado na incerteza, embora ansioso com a perspectiva de realização. Porque ele, como advogado e antropólogo, não apenas embarcou imediatamente no projeto, como compartilhou seus contatos, dando um direcionamento essencial que, sem ele, esta edição não teria saído.
Assim, com a ajuda de indicações nas redes sociais, chegou-se ao número final de 12 contribuições que enriquecem a revista de maneira ímpar. Com isso, diante de tantos nomes tão qualificados, recuo do meu papel de protagonista para assumir uma posição de mediador do debate.
Para pôr no ar esta revista, foram realizadas 12 entrevistas, 10 das quais publicadas com exclusividade, somando 15 horas de áudio e vídeo transcritos num esforço hercúleo. Milhares de mensagens trocadas pelo WhatsApp, centenas de e-mails enviados, dezenas de fotos analisadas, incontáveis horas de revisão (para mesmo assim passar um caco que você certamente vai encontrar…), várias madrugadas varadas e sonos interrompidos. São mais de 100 páginas de conteúdo 100% exclusivo, que podem virar livro um dia.
Ao fim, com edição pronta e entregue, cansado ao extremo, posso afirmar: estas foram duas semanas das mais gratificantes que eu poderia ter em toda a minha vida.
Conviver tão proximamente com tanta gente que pensa o Brasil e o povo brasileiro com todo fervor foi revigorante. Gente que tem na inclusão uma premissa irrevogável. Gente que tem no compartilhamento um lema de uma vida. Gente que tem no zelo pela diversidade, uma riqueza cultural imensa.
Em cada nova entrevista, em cada novo trecho, alguns elementos serão comuns: a necessidade de se reconhecer e preservar direitos e culturas dos povos originários; como o Brasil é um país pluri-étnico; como é perigoso tentar homogeneizar o entendimento de povo em torno de um padrão imposto; como a cultura se move e se modifica constantemente; como o choque de povos e de modos de ser no mundo provocam evolução.
Em outros momentos, conhecimentos específicos podem mudar a sua maneira de ver e entender o mundo, como aconteceu comigo.
Está aqui o meu maior orgulho desta edição da Papo de Galo_ revista. Ao propor construir um tratado sobre o povo brasileiro, o que se lerá nestas próximas páginas poderá efetivamente se tornar objeto de alteração de compreensões.
Prepare-se para uma longa aula de humanidade e de civilidade.
Viva o conhecimento!
Viva o povo brasileiro!
Edital da Papo de Galo_ revista #3.
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