A campanha de Alckmin não acertou o tom. E sem carisma, cria rejeição, mesmo com os quase 40% do tempo de propaganda dos presidenciáveis.
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Meu pai costumava dizer que “uma coisa que que começa quadrada não termina redonda”. Ele assim se referia a questões que dificilmente se consertariam com o tempo, em especial, quando este tempo é curto. Claro, há inúmeros casos em que o prumo se acerta em tempo, e o que parecia sem futuro se torna algo útil. Mas daí, lembrando de outro ditado retorcido, faz-se o eco necessário que talha que “de onde menos se espera, é de onde não sai nada mesmo.”
Pois foi nos 40 minutos antes da confirmação do candidato tucano à Presidência da República (beijo, Nelson Rodrigues) que se viu a bola era quadrada. Começava capengando sua campanha.
Inicialmente, Alckmin e Dória, antigos aliados e naquele instante concorrentes, trocavam farpas e distribuíam puxadas de tapete. Iniciou-se uma gincana para ver quem conseguia mais partido para coligação. No que, enquanto Dória somente conseguiu seu espelho Flavio Rocha e um insignificante partido, Alckmin, escolado na arte de coalizão, amealhou meia Brasília para lhe apoiar. O duelo interno escancarou a desunião dentro do partido. Não havia, portanto, confiança em quem deveria segurar o leme do PSDB e direcioná-lo a algo maior.
Confirmado o nome de Geraldo Alckmin, os erros permaneciam se amontoando. Demorou para entrar na disputa. Jogou seguro, apostando que a troca de diretos e cruzados entre adversários o faria chegar ileso no auge da campanha, como melhor opção a uma população talvez cansada da polarização. Falhou ao perceber a necessidade de postura enfática, de que o “veja-bem” (ou o “olha”, propagado em cada fala em tucanês) não é aceito.
Quando o horário político foi iniciado, proporcionou um espetáculo tosco ao vestir um ridículo chapéu branco de vaqueiro e uma marmita de alumínio no sertão nordestino. Virou caricatura, personagem patético de si mesmo, e resumo da empáfia e absoluta incapacidade de compreensão dos paulista sobre o Brasil. Mais recentemente, em visita a uma creche em Brasília, caiu com criança no colo, alvoroço tragicômico de um bufo espalhafato eleitoral.
Seguia, no entanto, a esperança pelo impacto poderoso do bombardeio de sua imagem na propaganda eleitoral em rádio e em televisão. O efeito, no entanto, parece ser reverso. E é explicado por uma propensão ao desgaste de imagem.
Artistas, por exemplo, ao negociarem contratos com marcas, provisionam aparições e limitam seus acordos. O motivo é simples: evitar a superexposição de sua imagem. É entendimento tácito do mundo do marketing: o excesso de inserções pode provocar efeito contrário ao desejado pelo contratante. Em vez de vender mais, cria rejeição.
Trazendo para o mundo da política, o questionamento é mais do que válido. Se para pessoas altamente carismáticas, a superexposição pode ser danosa, o que pensar de alguém totalmente desprovido de carisma, como é o caso de Geraldo Alckmin?
Desta maneira, cada aparição de Alckmin provoca efeito reverso. Em vez de fazer com que ele cresça, desidrata suas chances, que já eram ínfimas. Ainda mais quando seu adversário mais poderoso, que angaria os votos dos descontentes com os anos PT, sequer pode sofrer do mesmo mal, sem tempo e internado. E que exagera na capacidade de blindagem, mesmo com seu vice (e ele mesmo, eventualmente) proferindo impropérios de ameaça à democracia.
Claramente, a campanha de Alckmin não acertou o tom. E sem carisma, cria rejeição, mesmo com os quase 40% do tempo dos presidenciáveis. Em exposição de metragem tão curta, há de se ser assertivo. Há pouco (ou nenhum) tempo de reversão. Mas aí, seria realmente esperar demais de um partido que provou ser absolutamente incompetente em dialogar com o país.
Quando, agora, Alckmin confirma Haddad no segundo turno e diz ser a opção viável contra a esquerda, o faz como último suspiro. Quer ressuscitar o comedimento num cenário altamente bélico, de emoções exaltadas. Fala, no entanto, para um público reduzido. E muitos deste diminuto espectro cansaram da inaptidão dele e de seu corpo de campanha para criar, ao contrário de seus adversários, uma narrativa minimamente vendável.
Ou o PSDB aprende a se comunicar com o Brasil – abandonando, simultaneamente, os arcaicos caciques que impedem sua renovação – ou estará constantemente no banco de trás do poder em Brasília.