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A volta do Jornal do Brasil

A volta do Jornal do Brasil

Jornal do Brasil, jornal, Rio de Janeiro

Ressurgiu no mundo impresso o icônico Jornal do Brasil. Fundado em 1891, sucumbiu ao mundo da internet. A nova tecnologia moldou um novo conceito de ver e absorver notícia, que reduziu o legado do impresso até ser quase impossível manter-se vivo. Para o Jornal do Brasil, então, o baque foi ainda maior.

O que sempre me fez enxergar com olhos saudosos o Jornal do Brasil, mesmo não tendo sido exatamente contemporâneo de sua fase áurea, é que assumiam suas colunas gente de quilate que não se encontra em espaços nos de hoje em dia.

Aqui reside, uma vez mais, a forma de consumir notícia modificada pela internet. Foram-se as análises completas, as crônicas que exigiam atenção e pensamento, os contos poderosos, a ponderação analítica, liberando o aluguel para gente rasa, piadas tolas e cliques na base do quanto-mais-melhor.

Foi no Jornal do Brasil que foram aperfeiçoadas, espalhadas e contempladas figuras como Carlos Drummond de Andrade, Carlos Heitor Cony, Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, dentre muitos outros. Estar no Jornal do Brasil era o auge do escritor, o ápice de uma aptidão sublime. Os maiores do Brasil, os clássicos, os imortais, passaram por suas páginas.

A volta da edição impressa do Jornal do Brasil causou grande comoção no Rio de Janeiro. Relatos contam que desde muito cedo nas bancas já não mais se encontravam. A nostalgia bateu forte.

Honrar esta nostalgia será o desafio maior do Jornal do Brasil. Varria-se suas páginas e cadernos como se saltitando, na ponta dos pés, num lirismo palpável exalando de cada linha, de cada ideia, de cada relato. A gente que zerou as bancas quer um olhar mais lúdico, mais completo, mais humano, na maneira de se fazer notícia. Gente que anseia por uma crônica do Millôr no café da manhã, pelo drama de Nelson Rodrigues no fim de semana, pela descoberta de um mundo mais azul, mais leve, melhor de se viver.

Num primeiro momento, passaram longe. Abriram caminho para que políticos, principalmente, estampassem letras em loas ao seu retorno. Um auto-referenciamento, que se num primeiro momento é compreensível, vai contra a espontaneidade daqueles que queriam o retrato que ele sempre trouxe, porque, convenhamos, coluna de Michel Temer parece forçado demais e fora de tom naquele que foi sempre um dos maiores meios de oposição da história.

Daqui pra frente, o equilíbrio da recorrência entre assinantes, compradores, tiragem e consequentes anúncios e patrocínios vai ser o fio condutor — uma corda bamba, melhor dizendo — de sua existência. Afinal, há de viabilizar o business para manter-se o show. Boa parte deste delicado toma-lá-dá-cá passará, obrigatoriamente, pela manutenção de sua qualidade editoral de antanho. E qualidade custa caro.

Enquanto isso: bem-vindo, Jornal do Brasil. Que seja uma luz neste mundo carente de informação confiável.

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