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A miopia, a esperança e a realidade

A miopia, a esperança e a realidade

Quando reassumiu a Diretoria de Futebol do Vitória, Sinval Vieira propagou o ideal de que o campeonato a ser buscado pelo rubro-negro era a Copa do Brasil. Agiu como um dirigente deve agir, alimentando a esperança da torcida de que esse ano vai. Não foi.

O problema acontece quando a direção do clube também segue a regra da esperança. De que vai conseguir recuperar o craque envolto em contusões. De que o ídolo do passado voltará à glória no manto que uma vez honrou. De que Argel poderia se tornar um bom técnico. A realidade, no entanto, mostrou que a competência sobrepõe a esperança na gestão de uma equipe de futebol, porque esperança deve ser restrita a torcedores.

No fato, os jogadores historicamente envoltos com contusões continuaram contundidos. Estrangeiros que nunca jogaram bola em lugar algum, continuaram sem jogar bola por aqui. Nosso treinador prosseguiu sem atribuir um padrão de jogo à equipe. E arrisco dizer, até, que alguns de nossos craques sofrem com medidas abdominais acima do aceitável para o futebol moderno.

Argel percebeu que desde o primeiro dia seu cargo estava sob ameaça. Conhecedor das artimanhas que garantem o assento do escalador, fiou-se nas vitórias locais que mascaram um trabalho que fraqueja. E na base do “me engana que eu gosto” fomos avançando nos torneios do quintal de casa, sofrendo para ganhar pelo placar mínimo de times que nem Série D frequentam.

Não estava bom, mas estávamos ganhando, mesmo que fosse de Galícias e Sergipes.

A impressão era de que bastava uma equipe minimamente organizada para destituir o status de líder nacional de aproveitamento de pontos. A esperança nos mantinha dentro dos eixos. Veio o brioso Paraná, com uma defesa sólida e elenco mais limitado, a nos arrancar do caminho da glória. Para ouvirmos depois que o time tinha feito excelente partida, veja só. Não sei a que jogo assistiram, mas não foi o mesmo que eu, pouco incomodado que foi o goleiro adversário. A miopia é grave nos lados de Canabrava.

Agora tudo será Ba-Vi, em overdose. Gozadores do bairrismo que nos deleita nos debates acalorados dos bares soteropolitanos, muitos se darão por satisfeitos em bater nosso rival tricolor. Digo, no entanto, que basta! Que passou da hora de rompermos os grilhões que nos escravizam ao limite regional. Atribuir culpa é um fator fundamental para assegurar uma tranquila noite de sono. A postura de “nós tentamos, mas forças maiores nos impedem” tem que ser colocada a escanteio, e um projeto nacional de Vitória deve ser posto em ação.

Um que nos eleve a competidor nacional. Que transforme novamente o Barradão em alçapão. Que ajuste o grau dos óculos e nos faça seguir com os pés no chão e uma mentalidade que não aceita menos que a vitória, a nós destinada em nossa alcunha.

A visão de futuro de Sinval no começo do ano pode ser interpretada de duas maneiras. Ou era uma falácia propagada para acalmar os ânimos da arquibancada, que sofreu até os 48 do segundo tempo no Brasileirão de 2016; ou então realmente ele achou que com as peças que o Vitória tinha em mãos era suficiente cumprir a profecia auto imposta.

Cabe a nós escolhermos entre a incompetência e a mentira.

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