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Falibilidade

Falibilidade

Quando iniciei a proposta de escrever um texto por dia, publicado ou não – e este adendo é importante no meu processo de racionalização… Ah!, o autoengano – tinha certeza de que não seria cumprido à risca. Pregamos peças em nós mesmos. Impomo-nos metas que sabemos que não vamos cumprir.

Havia um outro objetivo, no entanto. O que vem com o teste, e, principalmente, com o hábito: o escrever melhor. E, porque não?, mais um: o de lidar com o erro.

O primeiro, externo em avaliação. O segundo, absolutamente interno.

É frustrante, muitas vezes, em quantidade e intensidade. Tem coisa que sai que eu tenho vontade de me esconder de mim mesmo. Tem coisa que sai da qual tenho muito orgulho, de que gosto de verdade.

Se com o tempo haverá uma constância em qualidade, não sei ao certo. Sei, pelo menos, que algumas das coisas que escrevi nos anos de 2009 e 2010 hoje me parecem absolutamente terríveis. Outras, no entanto, considero maravilhosas. Continuará a haver sempre as primeiras no meio das segundas, não se engane. É a proporção que me preocupa.

Para isto, apenas um remédio: muita leitura, muita escrita, muita releitura, muita coisa deletada, jogada fora. Olho para o lado e finjo que nunca sequer pensei aquilo.

A grande pegadinha disso tudo é lidar com o erro quando ele se apresenta.

Não nos permitimos falhar. Se uma crônica não sai como as melhores do Veríssimo, vexame. Se uma sacada não tem um quê de Millôr, desista. Se o sarcasmo não é fino como o de Machado, melhor capinar um lote. Morria de medo da cara de “é… perdeu a mão aqui, coitado”.

Gosto de reler muitas das coisas que já li. Referências, sabe como é, necessário batermos continência vez ou outra. Foi quando a luz bateu, demorou para acender, mas pegou: nem tudo ali era genial. De nem tudo ali eu gostava.

Ora, se nem eles, aparentemente, conseguiriam agradar inteiramente, porque haveria eu, engraxando seus sapatos enquanto eles fumam o charuto dos nobres, de querer algo assim?

Releio as coisas que já escrevi, e sempre encontro uma maneira de melhorar uma linha, uma frase, uma palavra que seja.

Reconheci minha falibilidade. Eu erro, e muito. Quero errar menos. A consequência do errar menos é que aumenta a probabilidade de acertar mais. Probabilidade, veja bem, porque o erro menor não necessariamente causa o acerto, ele pode atingir o indiferente, o comum.

Uma vez reconhecida a inevitável existência da falha, um peso gigantesco sai das costas. O lidar com muda. Ela não é mais uma figura estranha, um elefante na sala. É um bicho que você tem que chamar para conversar quando aparecer e entender como diabos um ser daquele tamanho conseguiu invadir seu espaço.

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