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Voto desavergonhado

Voto desavergonhado

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As pesquisas de intenção de voto têm um papel fundamental na definição sobre quem votar. A depender dos seus resultados, pode criar o que os americanos chamam de momentum, o nosso bom e velho embalo. Porque a onda crescente de um candidato (ou a interrupção de subida dentro de um esforço grande) determina como a militância vai se comportar dali pra frente. Mas, mais do que isso, tem efeito vasto construção de um conceito de aprovação social de um voto contido.

Exemplos não faltam. Pelo contrário, são fartos.

Em 2012, o próprio Fernando Haddad, do PT, demorou a embalar em sua campanha à Prefeitura de SP. Cresceu na reta final, chegou no dia da eleição bem posicionado, e sua curva ascendente foi forte demais para que José Serra, o descumpridor de promessas cartoriais, pudesse fazer frente.

Em 2016, João Dória decolou num desempenho fulminante, levando-o à vitória em primeiro turno.

Muitos outros foram os casos. Lula no segundo turno de 2006, em meio ao escândalo do Mensalão. O efeito Marina em 2010, e o xabu Marina de 2014.

Pesquisas são retratos de momento que refletem uma fotografia de um estado de espírito, mas que, interpostas sucessivamente, contam uma história e impacta como o público declarará seu voto dali pra frente. As curvas de desempenho influenciam o chamado voto útil e faz sair do armário aquele sufrágio que não admitimos inicialmente.

Neste 2018 podemos ver este comportamento em diversos momentos.

Com Bolsonaro, seu constante e estável crescimento fez com que muitos, inicialmente envergonhados de sua escolha, pudessem, por fim, abrir sua opção sem receios. A confirmação social de que há um grupo grande (e unido) traz conforto na decisão.

O mesmo passa agora com Haddad. Por mais que Lula sempre tivesse à frente, a transferência de votos não decolava. Em 10 dias, Haddad saiu da quinta posição para a vice-liderança da corrida. Mais interessante é notar como a curva de votos cresce mais, quanto mais ele cresce. Justamente porque o voto em Haddad vai ficando desavergonhado. Ao se ver a vasta massa que declara voto no candidato petista, outros propensos ao mesmo, confirmam a intenção com mais facilidade.

É este mesmo viés, com direção oposta, que mina as possibilidades de Geraldo Alckmin. Em nenhuma pesquisa o candidato tucano dá sinais de sobrevida, oscilando em margens ínfimas, em gradual queda. Esta parada dispersa seus potenciais eleitores e implode o argumento do voto útil. Para que cresça, é fundamental que alguma pesquisa indique que pode ir pra frente, criando um ciclo que vai se retroalimentando.

Da mesma forma, Marina desidrata. E desestimula os votantes que poderiam nela votar, desde que mostrasse força. Não mostra, e beneficia o candidato petista. Assim como Ciro, que dificilmente chegará na reta final como alternativa viável, por não ser capaz de criar embalo à sua base.

De fato, há muito poder nas pesquisas. Por isso devemos nos atentar à lisura de seus levantamentos, ignorando aquelas que recorrem a apuração criativa e segmentação tendenciosa.

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