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90 Segundos @ Futebol S/A (#021): Diego Maradona

90 Segundos @ Futebol S/A (#021): Diego Maradona



A primeira vez que soube da existência de Maradona foi na Copa de 90. Estávamos em Mutá, vila de pescadores no limite da Baía de Todos os Santos. O Brasil perdeu e meu pai, num mau humor acumulado desde a decepção de 82, colocou as crianças para brincarem fora de casa. Mas chovia e fazia frio naquele junho baiano. Procurando abrigo, fiquei embaixo da antiga ponte de madeira do cais, que pingava gotas geladas por entre as vigas podres e eu ali, morrendo de frio e sem entender nada da injustiça daquela situação.

Com o tempo, enquanto a paixão pelo futebol crescia, a figura de Maradona foi criando outra forma na minha cabeça. Porque se dentro de campo ele era sublime, fora de campo é que a sua imagem se transformava em outra coisa. Especialmente quando pesado o significado do título mundial de 86.

Quando Maradona fez um gol de mão contra os ingleses, ele vingou um país inteiro. Se o gol de mão era uma injustiça, as Malvinas também eram, então foi reparação na mesma moeda. E depois, Diego foi imortalizado na voz de Victor Hugo Moralez no gol de todas as copas.

Mau exemplo: o exemplo perfeito

Mas em vez de exemplo de conduta, o pibe era o oposto. Era ser humano falho, ao mesmo tempo em que genial. E nisso se fazia espelho do povo argentino: superior, que não busca a perfeição porque é perfeito como é, cheio de alma, politizado, que erra e segue e jamais abandona quem lavou a alma de uma nação abalada. E para que não houvesse dúvidas, elevaram-no à condição de Deus, o mais humano dos deuses, conforme escreveu Galeano, como se a dizer para nunca o tocarem em sua magnitude.

Agora Maradona se foi. Não o vi no auge dos gramados, mas aprendi a respeitá-lo naquele junho de 90. Seu poder era evidente, embora eu, criança, não o compreendesse. Vi, contudo, o seu auge como ser mitológico. E por conviver com argentinos diariamente, observo curioso o significado de seu nome. E em vez de partir para a iconoclastia que tanto prezo, concedo este tanto à Argentina. O mundo chora como uma criança debaixo da ponte num dia de chuva. É uma injustiça ter que dizer adeus a quem mudou o mundo, a quem redefiniu uma nação, a quem não é idolatrado pela sua perfeição, mas justamente por não ter vergonha de não sê-lo. Compreender este viés engrandece ainda mais seu significado. E dificilmente teremos um novo Maradona.

Eu sou Gabriel e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhe também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br. Um forte abraço e até a semana que vem.


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