Clubes de futebol são espelhos da cultura e da história dos locais onde eles estão.
No caso do Rio de Janeiro, o paralelo para a decadência do futebol carioca tem estes traços.
A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro traz em seu nome o trauma do sebastianismo português, aquele que espera o retorno do grande líder que vai colocar o país de volta nos eixos e o conduzir à glória.
Adicionalmente, a partir do momento em que o Rio de Janeiro se tornou capital, importou todo uma burocracia que institucionalizou o jeitinho ao poder real. A monarquia tratou de fazer valer a carteirada como status maior do império – algo presente desde o embrião de Brasil – e a grandiloquência da administração pública elevou o Rio à condição de líder inconteste do país.
Percebam os nomes dos periódicos do Rio e os comparem, por exemplo, aos de São Paulo. O Rio fala ao Brasil e ao mundo, enquanto São Paulo é bairrista.
Sempre houve, portanto, grandiosidade no Rio.
Mas depois da mudança da capital da República para Brasília, o Rio perdeu um elemento que era fundamental para equilibrar essa sua identidade. Sem o poder, as mazelas da cidade foram escancaradas.
Ganhou ainda mais força o jeitinho. Cresceu na gente a herança cultural de desejar ver nascer um novo grande líder provedor. Tudo sempre carregado de uma certa grandiosidade histórica. Ou seja, com olhos fixos no retrovisor.
Nesse sentido, o futebol carioca é o espelho da cidade e do estado.
Um tanto decadente, ansiando pelo retorno de grandes líderes – lembremos, Eurico Miranda promoveu golpes em eleições recentes, o Botafogo espera a salvação pelos irmãos investidores, o Fluminense viveu suas últimas glórias com Celso de Barros ganhando bandeirão na arquibancada –, se agarrando à grandiosidade de outrora e ignorando por completo as atualizações necessárias para reequilibrar a equação de sua cultura e poder, enfim, olhar para frente.
O primeiro passo para o futebol carioca é entender que o mundo mudou. E que a história grandiosa, há tempos, deixou de ser condição para que mantenha grande. E a lição está no próprio quintal. A volta por cima do Flamengo é caso de sucesso. Resta torcer para que, no caso de Vasco e Botafogo, não seja tarde demais.
Eu sou Gabriel Galo e esse foi o 90 segundos especial para o Futebol SA. Me acompanhe também nas minhas redes sociais no @souogalo e no papodegalo.com.br; Um forte abraço, e até a semana que vem.
Acompanhe todos os áudios e textos do quadro “90 segundos” do Futebol S/A clicando aqui.
Ouça o programa completo sobre o futebol carioca, de 06 de março de 2021, no Spotify e Google Podcasts.
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