Plot twist.
Este é o nome dado a uma alteração radical no sentido oposto ao esperado dentro de qualquer obra narrativa. É a surpresa, aquilo que mantém a história viva e o público interessado. O futebol é o centro dos plot twists daquilo que faz bem.
Foi com a zona do rebaixamento perigosamente próxima que o Bahia teria pela frente o desafio de enfrentar o líder do campeonato na Fonte Nova. Treinador recém-chegado, atacante velocista impedido de jogar por contrato… Onde colocar as verbas da aposta?
Aqui a gente deve separar o que é esperado do que é provável. Os números frios diziam que o líder do campeonato complicaria ainda mais a vida do esquadrão. Melhor campanha fora de casa, o alvinegro paulistano segue a passos largos rumo ao sétimo título. Era mais provável a vitória corintiana.
Acontece que da torcida do Bahia não se duvida. O amor incondicional pelo manto tricolor fala mais alto, grita, extravasa. Seja no alto ou no baixo da tabela. Sua presença é garantida, seu ânimo, inabalável. Porque se as coisas não estavam indo na bola, iria na base do BORA BAÊA, MINHA PORRA!
O ônibus carregando a delegação à Fonte Nova foi recebido pela horda ensandecida. Aliás, de que outra forma atribuir tamanha sanha senão à loucura? Loucos são os torcedores, os amantes, os que acreditam, os que comprometem a voz no dia seguinte pedindo conquistar mais um tento.
BAÊA! BAÊA! BAÊA!
Não tem quem não se mexa, quem não se remexa, quem não se tremelique. Injeção de adrenalina. Doping natural. Das arquibancadas foi a campo o décimo segundo jogador, o melhor jogador do clube, de todos os tempos. Gente que não arreda pé, porque ser Bahia é mais importante. Dizia Bill Shankly, “Futebol não é questão de vida ou morte. É muito mais do que isso.” Essa máxima é embutida no DNA de quem, no nascer para o mundo, se veste de azul branco e vermelho.
Vermelho da raça, da paixão. Vermelho que foi demais para o branco e preto sem sal do visitante paulista.
Foi no embalo dos que não sentaram nunca nas cadeiras verde-Tororó, no combustível da turma tricolor, da voz do campeão, do povo o clamor, que a máquina tricolor se abasteceu e correu, tentou, insistiu e pôde realinhar as probabilidades. No insosso mundo das táticas, da composição, do terço final, o sobrenatural surge. Era Bahia na cabeça, coluna um.
Disse João Saldanha, quando de um amistoso do Brasil contra a Iugoslávia antes da Copa de 86. No placar, apontado 3 a 1 para a seleção canarinho: “O Brasil ganhou porque tinha Zico. Se ele se chamasse Zicovic, ganharia a Iugoslávia.”
Ganhou o Bahia porque a torcida era Baêa. A torcida do clube cujo hino, oficial por usucapião, é para ela. Fosse qualquer outra, ganharia o mais provável.
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Leia aqui meu texto depois do título da Copa do Nordeste.
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