Como se mede carisma? Como se mede simpatia? Tivesse eu que criar um indicador, partiria para o ISLOQ: Índice de Sei Lá O Quê. Aquele que se calcula na base do achismo, do sentimento, da vontade de abraçar. Sabe como é? Não tem fórmula fixa, use como o quiser, na mais perfeita implantação do MSLC, o Modo Sei Lá Como.
Em se tratando de je ne sais quois, a seleção de Senegal tinha para dar e vender. Mas ‘jenesseqüá’ não se vende. Sequer se sabe o que é, afinal. Então a distribuição era gratuita, em ação o que elevava ainda mais o valor do produto, que não era produto, que não tinha valor de face, a não ser o valor de até onde sobe na sua barra do ISLOQ.
A nova e vanguardista métrica envolve futebol aberto, junta dança no aquecimento, engloba sorrisos, adiciona colorido, considera torcida, roupas, cantos, brilho no olho. E mais um monte de coisa que eu nem faço ideia, porque subjetividade não aceita apontamento.
Na comparação de ISLOQ entre as seleções, está cristalino. Se a Copa do Mundo fosse decidida em carisma, não haveria dúvida. O favorito disparado, campeão incontestável, seria Senegal. Tudo bem, o contexto colaborava. A gélida e pálida Polônia, cabeça-de-chave sofrível, alimentava o desejo de que os outros do grupo avançassem.
E houve concorrência forte. Afinal, o que dizer desta Colômbia, nossos vizinhos sulamericanos com jogadores e laços estreitos com o Brasil? Como não se encantar com a dança caótica e espasmática de Mina, que se tivesse dormido no colchão de Marcelo ganharia três hérnias de disco e ficaria sem mexer por uns quatro meses? Foram para cima, sem James Rodriguez, amarelinhos como bate o coração brasileiro. E como não gostar deste Japão que buscou resultados empinando o nariz, abusado que só, vestido de azul como a cor do mar que envolve a ilha?
O dilema estava montado na frieza do só-passam-dois: um deles estaria fora. E a última rodada começou com os empates classificando o Japão em primeiro e Senegal em segundo. Os cafeteros davam adeus à competição, mas tudo poderia mudar com apenas um gol. E ele veio.
A Polônia, a insossa europeia, estilingou o Japão, porque podia, porque sim, porque tinha um resquício de honra a fazer vez. Pronto, mudou tudo. Agora Senegal passava em primeiro, Colômbia em segundo, Japão fora. Mas tudo poderia mudar com apenas um gol. E ele veio.
Mina subiu mais alto que a zaga verde e pôs a Colômbia na frente, porque podia, porque devia, porque depender dos outros é erro estratégico. Fizeram onda na comemoração – conta muitos pontos no ISLOQ –, seguraram o ímpeto senegalês. Só que embaralhou o grupo e ao extremo. Agora, Colômbia era líder, Japão e Senegal empatados em segundo. Mesmo saldo, mesmo número de gols, confronto direto empatado. A classificação dum ou doutro seria decidida no número de cartões amarelos. Ora, inédito!, fair play como fiel da balança. E os asiáticos, mais disciplinados, prevaleceram.
Só que no meu ISLOQ particular, o Japão despencou quando abdicou de jogar bola no fim do jogo contra a Polônia. Modorrentos, saíram justamente vaiados, com o advento do regulamento debaixo do braço. E já que a arbitrariedade opinativa é a tônica do mundo das redes sociais, levanto motim contra essa tecnicidade que de futebol nada entende, porque fria em números e vazia em alma. Fair Play, não! Institua-se, já!, o ISLOQ como critério de classificação. Porque na minha matemática, deu Senegal na cabeça.
* Gabriel Galo é escritor.
Crônica publicada hoje no site do Correio da Bahia. Link AQUI!