Se você ainda não notou, a Papo de Galo_ revista segue uma sequência de tópicos e perfis de textos. Uma revista de tema mais denso, como foram a primeira e a terceira são necessariamente intercaladas com outras edições de temas mais leves, como o amor da segunda edição e agora o São João nesta quarta. Se as primeiras têm interação com nomes importantes do cenário de discussão e se propõem a ampliar debates e ampliar conhecimento, estas últimas se entregam à literatura, ao lúdico, à fantasia.
Nas páginas desta revista, darei vida a um São João que não é de agora, mas o de antigamente, que reverbera a alma do sertão nordestino e que é foco de resistência de cultura.
É importante fazer uma ressalva que conecta com a edição da semana passada sobre a formação do povo brasileiro. Nela, ficou muito evidente que cultura não é algo estático, é mutante, absorvendo novas características com o tempo e desenvolvendo novos meios de ser no mundo. Ao mesmo tempo, no entanto, houve recorrentemente a exibição da atuação de um processo colonizador de esquecimento de povos e suas culturas, impondo um jeito único às minorias que, ameaçadas, ou se adequam ou simplesmente desaparecem (eu sei que você pescou a referência).
Daí que a confluência de culturas é positiva quando se chocam em igualdade de condições. Quando há sobreposição ou imposição de um sobre o outro, para que não elimine as raízes de uma gente que está fadada historicamente ao esquecimento, há de se lutar para que o pequeno monte guarda na preservação que traça suas origens, para que, enfim, se modifique com consciência de onde veio. Origem não é questão de identidade, é questão de equidade.
Então, não cometa o crime de me chamar de conservador, que este conceito que se venda por aí não tem nada a ver com o que trago.
Também, não vou incorrer no risco de pintar um sertanejo típico, numa romantização que poderia andar lado a lado com o indianismo de José de Alencar, despedaçando as diferenças entre cada quais. Valei-me!
Atenho-me às histórias, muitas crônicas e um conto, este último narrado pelo olhar de criança em memória, aguçando os sentidos de uma época que está lá atrás onde eventualmente não existe mais, embora alguns rincões lutem bravamente pela ausência de contato, além de um cordel com a fantástica história do boi junino.
Não se trata, portanto, de resumir uma gente, ou uma tradição. É questão de contar histórias e instigar cheiros, cores, sons, sabores e toques, para que nos transportemos direto pra dentro da história, numa viagem no tempo que se conecta ao agora, na farta mesa posta, na música, nos causos.
Aliás, mesmo que desfigurado em sua origem, este São João de cidade grande, com grandes praças e bandas em shows de grande porte e turistas a mil, é a vitória do sertanejo, de uma gente que de esquecida impôs seus modos para serem incorporados pelos outros. Ultrapassa a resistência e galga um triunfo silencioso. Como dar as costas a tão vital beleza?
Parafraseando a fala de Nego Bispo em entrevista exclusiva na edição número 3 da Papo de Galo_ revista, atestando o tambor como escudo contra a Bíblia que acossa sua cultura: enquanto o Nordeste tiver o São João, não tem jeito que dê jeito.
Então se apronte, que vai começar.
Viva São João!
Editorial publicado com exclusividade na Papo de Galo_ revista #4.
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