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_Entrevista: Rogério Barrios

_Entrevista: Rogério Barrios

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O currículo de Rogério Barrios, pré-candidato a vereador pelo PSD em São Paulo, é extenso. Com formação em relações internacionais, além de mestrado em ciências da religião e doutorando em educação, foi pró-Reitor da UniSant’Anna, em SP. Considera-se, primeiramente, professor. Inicia, em 2020, sua primeira campanha política. Religioso e ex-dirigente do Corinthians, se afastou dessas frentes messiânicas para buscar uma política sobretudo integrativa. Na nossa conversa falamos extensamente sobre educação e de fomento ao empreendedorismo, na qual ele expôs sete projetos que vê como urgentes na cidade.


1. Capacitação de professores

Na educação, não adianta nós projetarmos qualquer intenção se não tratarmos de dois pontos fundamentais. O primeiro é a capacitação do corpo docente. O professor precisa estar capacitado, porque ele não pode dar aquilo que ele não tem. É preciso que a prefeitura e o governo do estado tenham, de fato, pessoas que estiveram em sala de aula, vivendo a rotina da educação. Assim, poderia ser criado um projeto para chamar os professores a treinamentos sistemáticos, tanto remotamente quanto presencialmente.”

E eu falo por prática. Eu chegava como professor de 23 anos numa sala de magistério e depois de 1 ano as crianças não queriam mais fazer magistério, mas faculdade de engenharia química? Eu dava com tanta alegria aula de química, que transformava as pessoas pra fazerem isso. Isso se dá porque ao conseguir, dentro daquilo que se está trabalhando, ao absorver aquilo que importa, ao entender que a sua própria vida vai ser transformada, entrega-se o conteúdo com a mesma contundência.

O segundo ponto é implantar avaliações periódicas com os professores, para que eles também passem por testes para saber se são de fato professores ou se estão professores. É infelizmente comum ter professores ‘provisórios’ por não terem opção de outro emprego, que de alguma maneira foram levados a essa profissão. O fato é que escolhemos a nossa profissão muito jovens. Se eu não tiver capacitação e um projeto de averiguação se esse professor tem o DNA docente, estaremos frustrando a próxima etapa que é alcançar os alunos.


2. Laboratórios de informática

Há de se implantar também extensa rede de laboratórios de informática nas escolas. Não adianta capacitar os alunos dando celular, computador em casa. Isso não vai acontecer. Eu já tenho o espaço físico que é a escola. Dentro da escola preciso colocar equipamento em laboratórios para que os alunos possam ir até a escola. Durante a pandemia, é possível levar os alunos em regimes de escala. Quando atuei como pró-Reitor da UniSant’Anna, centro universitário em São Paulo, sempre obtivemos conceitos excelentes no MEC. E esta classificação depende dos laboratórios de informática. Eu tinha sete laboratórios de informática ali, acessíveis inclusive fora do horário de aulas.


3. Fábricas de cultura

O terceiro passo é fazer uma composição entre escolas e fábricas de cultura. Porque além de ter a escola entregando o currículo padrão, temos que tomar cuidado com a vocação dos alunos. É promover uma aproximação do currículo regular que o MEC manda, com a fábrica de cultura no contraturno. Quer dizer, você tem o turno de aula e o contraturno você precisa avançar em alguns aspectos, entre eles reservar um tempo daquilo que estou chamando de nova educação artística, só que virtual.


4. EAD gradativo

O MEC liberou 40% das aulas presenciais podem ser EAD, em qualquer curso. O dono da faculdade quer 40% de EAD pra reduzir os custos, com conteúdos modulares e contratando menos professores. Com isso, os donos de faculdade não contratam mais professores com capacidade de ensinar, mas gestores comerciais com habilidade de trazer alunos.

Na PUC foi feita uma estatística* que na graduação no Brasil, 96% dos alunos que terminam a graduação não sabem ler, interpretar e escrever. Dentre muitos motivos, porque o professor que está ali não é o melhor docente. Isso temos que conter no curso de capacitação no município, em que não se tem que trazer o aluno. Ali tem ser feita uma régua de largada, algo em que quem está ali pra dar aula, tem que ter vocação.

Hoje, a criança chega na universidade sem contato com o EAD. Seria necessário um projeto que aumentasse gradativamente o contato do aluno com o EAD. Se na graduação pode 40%, no ensino médio pode 30%; no fundamental II, 20% e no fundamental I, 10%. Considerando que a prova do ENAD tem as notas de quem estuda EAD são maiores que as dos cursos presenciais, nós temos problemas com o EAD do fundamental I ao médio. Na graduação, com o EAD, tem-se uma qualidade de aula melhor que a do ensino presencial.  Porque o EAD dá uma capacidade, um tempo pro aluno ler textos, em vez de ficar no trânsito, dá condição do aluno responder na casa dele, sem precisar ir a cantina gastando dinheiro.

Na pratica, na graduação, se conseguirmos trazer os alunos mais acostumados com o EAD, nos seremos atropelados pela qualidade do EAD. Os custos e infraestruturas vão se modelar de outras maneiras, vão se modernizar. Inclusão digital no EAD é garantir uma proficiência básica para que todos, mesmo que tenham abandonado o estudo, tenham conhecimento e discernimento virtual.


5. Universidade Municipal de São Paulo

A realidade da escola pública criam uma competição desleal. crianças e professores, na prática, estão competindo com alunos de escolas particulares. Como essas crianças poderão concorrer com estes alunos? A Fuvest, por exemplo, faz uma prova completamente elitista, elitizada.

Eu entendo que o projeto da universidade municipal de São Paulo precisa existir. E com a adoção de uma espécie de cota invertida: o que sobrar de vaga, abre-se pra bolsistas que não têm condições de pagar escolas particulares, mas lá estudam.

O primeiro ano da universidade, os alunos vão entrar e, até que a gente possa corrigir o atraso educacional criado, ter aulas de aprimoramento daquilo que não aprendeu no passado. Na UniSant’Anna, por exemplo, implantei um programa de nivelamento, o Aprimorar, e dávamos aulas principalmente de português e matemática.


6. Alfabetização sociológica

Sobretudo, precisamos criar uma alfabetização sociológica. Um dos maiores problemas do Brasil é gerações de analfabetos sociológicos. Porque se a sociologia estivesse integrada numa rotina de  alfabetização do aluno, as distorções sociais iam ser mais rapidamente identificadas. Então a gente precisa trabalhar as humanidades, sociologia, antropologia e filosofia com muita força.

Por que o governo quer dar mais ensino técnico, em vez de faculdade? Porque é muito mais fácil no ensino técnico falar para os alunos “aprenda uma profissão e vá girar a economia, não vai pensar”.

Está sendo forjada mais uma geração não-pensante. Não que seja proibido pensar, como era na Ditadura. Agora está havendo uma proibição implícita, não regimentada, não escrita. Estão tirando a ferramenta que faz a pessoa pensar. Estão lobotomizando uma geração inteira para o pensamento social. E isso é algo substancialmente mais grave.

Gabriel Galo

Até porque quando nós temos uma ruptura de uma geração com capacidade de desenvolvimento de pensamento, o que vai acontecer com o filho daqueles que não conseguem pensar? Estamos falando de diversas gerações diretamente impactadas.


7. Fomento à tecnologia e polo de negócios

Na cidade de São Paulo, vivemos em uma sociedade urbana que se fundamenta fortemente nos serviços. Em meio a isso, estabelecer um real fomento à tecnologia é fundamental, incubadoras, aceleradoras. Temos que passar a exportar aquilo que é mais importante: propriedade intelectual.

É preciso criar um Vale do Silício na cidade de São Paulo.

Já pensou se conseguíssemos colocar de pé projetos de tecnologia como os que eu citei? Exportar é preciso, especialmente tecnologia e propriedade intelectual.

Eu sou bacharel em relações internacionais. Tive a oportunidade de viajar o mundo em missões brasileiras pra pode fazer negócios e percebi que o faturamento anual de fábricas era concluído em viagens internacionais! Como é possível que São Paulo não tenha feira anual internacional com rodada de negócios? Nós temos tudo pronto: aeroportos, hotéis, principais universidade, empresas, matrizes do mundo todo…

Precisamos atrair pra cidade de São Paulo rodada de negócios com os BRICs, retomar o Mercosul com urgência, nos aproximarmos do Pacto Andino. A União Europeia está interrompendo acordos por causa do desmatamento da Amazônia e a Covid. Eu sei que vereador da cidade de São Paulo tem atribuições mais especificas, mas se tivermos uma comissão que trate de assuntos internacionais, eu iria aonde fosse necessário para convidar autoridades, empresários e investidores para vir a São Paulo e conhecer a nossa realidade, para mostrar que o Brasil não é só o governo federal.


A gente tem que começar a olhar para longe, não apenas para o buraco da rua. É preciso pensar em educação e trazer recursos através de transnacionais e grandes conglomerados pra se instalar na cidade. São Paulo precisa sair na frente de tudo isso.


Entrevista publicado com exclusividade na Papo de Galo_ revista #9, páginas 36-40.


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Capa da edição #9 da Papo de Galo_ revista sobre o papel do município na política.

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