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A volta do nove-nove

A volta do nove-nove

Harry Kane, Romelu Lukaku, Cristiano Ronaldo, Copa do Mundo, Rússia 2018, nove, artilheiro

Quando Guardiola efetivou Messi como falso nove, uma nova tendência no futebol foi criada (ou teria sido Zagalo em 1970?). O centroavante clássico, o nove-nove caiu em desuso. Queria-se atacantes móveis, exercendo múltiplas funções, tal qual a Holanda de 74. Tanto que Fred, o 9 brasileiro em 2014, parecia obra de museu naquela que consagrou duas seleções que seguiam os ensinamentos do fenômeno catalão.

Em 2018, no entanto, podemos estar assistindo a uma evolução do nove-nove, que parece estar voltando com força ao futebol. Não com as mesmas características de antes, mas tendo efetivamente incorporado as novas funções que incluem movimentações inteligentes, passes inesperados e recomposição defensiva. Se por um tempo estas pareciam ser o exigido do avançado, agora são aliadas e complementares a um faro de gol apuradíssimo. Peguemos os casos daqueles que lideram a artilharia na Rússia.

A ressurreição do nove-nove-plus começou quando Cristiano Ronaldo foi deslocado da ponta esquerda para ser a peça central da ofensiva do Real Madri. Na nova posição descobriu uma precisão nos arremates que o tornou num dos maiores artilheiros de todos os tempos. Tanto que nos últimos anos, enquanto assiste a uma queda na produção de Messi, empilha bolas de ouro e títulos. Diego Costa se naturalizou a pedido dos espanhóis, carentes justamente nesta posição. Lukaku, com história de vida emocionante, amadurece a olhos vistos e é a peça central do potente ataque belga. Por fim, Harry Kane, o jogador de futebol mais valioso do mundo, virou uma máquina de fazer gols.

Talvez a busca por alternativas ao centroavante clássico surgiu pela falta de bons nomes por um breve período. Ao mesmo tempo, pavimentou a criação de um novo perfil de jogador, mais completo. Alcançar as demandas de um fora-de-série vêm com um pacote de exigências adicionais que incluem desde um físico privilegiado até inteligência acima da média.

Atesta-se, assim, a impermanência do futebol. O que hoje vale, amanhã não vale mais. Mudará para uma versão 2.0 turbo, de acordo com o que surgir em seu tempo. Se antes vimos a morte do nove-nove, abria-se apenas o processo seletivo para buscar um nove-nove-plus. Um exemplo deste vai-e-vem é a contratação de Luis Suárez, ele mesmo um nove-nove-plus para jogar no Barcelona.

Se Pelé não era da posição – assim como Messi, mas melhor entender que nem deste mundo eles são –, os Ronaldos, os Romários, os Just Fontaines, os Leônidas, os Gerd Muller, os Mario Kempes, os Batistutas, os Paolo Rossis e tantos nove-nove-plus que desfilaram pelos gramados da vida se sentem realizados e felizes. Mesmo os nove-nove mais tradicionais, aqueles cuja função era de empurrar para dentro como desse, se veem honrados por este fenômenos que fazem fila para brilhar na Rússia.  Pode-se reinaugurar uma tendência. Desde 1978, a única vez em que um artilheiro de mundial teve mais de 6 gols foi justamente Ronaldo Fenômeno em 2002.

Em 2018, Harry Kane larga na frente com 5 gols em 2 jogos. Ronaldo tem 4, assim como Lukaku. Com 3 gols, Diego Costa está empatado com o ponta russo Cheryshev, um intruso no grupo. Vamos acompanhar quem chegará ao topo no fim do torneio, tanto como artilheiro máximo do certame quanto com o título. Por enquanto, sabemos que podemos contar com a pontaria infalível do novo nove-nove-plus do futebol mundial.

*Gabriel Galo é escritor.

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