Quer dizer que assintomáticos não transmitem Covid-19? Provavelmente não, com certeza menos. Mas a conclusão do submundo bolsonarista e negacionistas da pandemia está totalmente equivocada (como sempre), assim como a OMS errou grotescamente na comunicação.
No artigo acadêmico em que a OMS se baseia para validar sua afirmação, existe uma diferença entre assintomáticos e pré-sintomáticos. Assintomáticos têm realmente uma probabilidade muito baixa de transmitir a doença.
Mas qual a diferença entre assintomáticos e pré-sintomáticos?
Assintomáticos são aqueles que nunca desenvolveram qualquer sintoma da doença. Descobriram talvez por acaso que tiveram Covid-19. Têm, com isso, o tal do IgG positivo, mas o IgM negativo. Estão, logo, imunizados e sem o vírus ativo.
Pré-sintomáticos são aqueles que têm a Covid-19, mas ainda não desenvolveram sintomas, e, sim, transmitem a doença por aí. Eles, portanto, têm o IgM positivo no teste.
Só que tem uma pegadinha na atribuição de assintomático e pré-sintomático: ela é futura. No momento em que uma pessoa testa IgM positivo, é impossível saber se ela será assintomática ou pré-sintomática, porque isto só se sabe ao certo depois.
Ou seja: todo assintomático (futuro), no momento em que testa positivo para Covid-19 (presente) é um potencial pré-sintomático.
Ou seja: FIQUE EM CASA. Absolutamente nada muda nas recomendações atuais.
Ok, mas então por que a OMS divulgou a informação? Porque é obrigação da instituição compartilhar ao máximo os novos estudos sobre a doença. Mas existe um jeito certo de fazer a divulgação.
Sem explicar essas diferenças, como a de assintomáticos e pré-sintomáticos, que dão fundamento para a compreensão do problema, a mensagem pode ser mal-interpretada, como foi. E, como se sabe, no mundo da pós-verdade, corrigir dá muito mais trabalho que divulgar. Há de se ter muito cuidado. A The Lancet provou 2 vezes quão problemático isso é.
Em teoria, então, quem tem o IgM negativo pode circular? Sim. Mas, pra isso, seria necessário testar todo mundo e isolar os IgG positivos, para que não se contaminem os que não contraíram a doença, que têm o IgG negativo.
Mas aí, né?, Brasil: teste em massa e isolamento é difícil, fácil é negar a doença e esconder a estatística.
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ATUALIZAÇÃO: A OMS voltou atrás na comunicação. No entanto, a essência, o conteúdo, permanece o mesmo de antes. Ou seja: ajusta uma questão de forma. Mas agora o estrago já está feito. Basta ver o quanto a horda negacionista da pandemia saiu da toca.
Foto: Denis Balibouse / REUTERS
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