Lendo agora
O esconderijo inútil do despreparo

O esconderijo inútil do despreparo

despreparo, Gabriel Galo, Papo de Galo, Correio, Correio da Bahia,

Reflita: em que momento você já pensou em esconder alguma coisa? Você lembra do que aconteceu e do porquê do ato de fingir que nada aconteceu? Você acreditava que ninguém ia desconfiar, certo? Que tudo ia passar. Pois é.

Entre as mais nítidas demonstrações de despreparo e incompetência, a mais vil e certeira daquelas que operam da porta pra fora, aos olhos do público e da avaliação crítica, que não deixa rastro de dúvidas nem senão, é quando se apela à omissão de dados para impor uma narrativa falaciosa. Quando escancaradamente se varrem para debaixo do tapete os números que depõem contra si, que mensagem se passa a não ser o carimbo indelével da incompetência?

Na política, quem se utiliza desta artimanha geralmente se fia em bichos-papões e contos de fada, despejando ideais de poder e glória que tomam vida no mundo invertido. Para quem opera na fantasia, o maior inimigo de suas intenções é a realidade.

Se floresta pega fogo, se a economia não decola, se o desemprego escala, se a covid-19 vitima brasileiros na casa dos milhares, se a medicina recusa o achismo, se o balanço financeiro apresenta prejuízo, omitir a estatística que corrobora o oposto do que pregam é o caminho da covardia. 

Na outra ponta, o caminho da virtude, do enfrentamento corajoso de proteção, identificação de erros e correção de rumos nunca será o escolhido porque, no terreno da racionalidade e da realidade, as teorias conspiratórias não têm vez. Somente no obscuro a incompetência pode se disfarçar de conhecimento e de bem-querer.

Em alguma hora, a grande ficha, ela vai cair (beijo, Laerte). Porque o povo sofre na pele a crueza da realidade. A fumaça da mata queimando está  na sala, os corpos se amontoam, o remédio não funciona, o dinheiro que mal dava agora nem chegou.

Laerte Coutinho, Laerte, charge,

Por isso o tensionamento das relações na radicalização do discurso é a tática única dos truculentos. Na medida em que a realidade avança para fazer ruir o castelo de cartas onde residem, é necessário magnificar os medos irracionais, empurrar o bom senso para ainda mais longe, mais ao extremo, rompendo além da linha da civilidade.

Neste empurra-empurra, qual o limite para onde se pode levar a alucinação em defesa de ideais difusos e distópicos?

A consolidação da realidade ocorre pelo tripé liberdade de expressão, livre acesso à informação e democracia. Não à toa, são estes os elementos a serem extirpados pelos donos do poder para que o desconhecimento persevere.

Mesmo na pandemia, entretanto, grupo que representa o sentimento da esmagadora maioria dos brasileiros sai às ruas para demonstrar que já basta. Que acabou. Que o perigo de um vírus mortal é menor que as ameaças constantes de guinada autoritária e supressão de direitos. 

Enquanto isso, no lombo de animais sobre quatro patas, a insistência por brincar de faz de conta, de esconder a realidade e por fazer birra com a mídia, crente de que não se presta a patético e ridículo papel. E, com isso, assina sua confissão pública de despreparo e incapacidade.

Gabriel Galo é escritor


Artigo publicado na página 2 e no site do Correio da Bahia em 8 de junho de 2020. Clique AQUI!


Para ler mais dos meus artigos no Correio*, clique AQUI!


Fac-símile do meu artigo na página 2 do Correio de 08 de junho de 2020.

Gabriel Galo, Papo de Galo, Correio da Bahia, Correio, despreparo, ocultação, dados, informações,

Assine nossa newsletter!

Conteúdo exclusivo e 100% autoral, direto no seu email.


Antes de você sair…. Tudo o que você lê, ouve e assiste aqui no Papo de Galo é essencialmente grátis. Inclusive o que escreve em outros lugares vêm pra cá, sem paywall. Mas vem muito mais pela frente! Os planos para criar cada vez mais conteúdo exclusivo e 100% autoral são muitos: a Papo de Galo_ revista é só o primeiro passo. Vem por aí podcasts, vídeos, séries… não há limites para o que pode ser feito! Mas para isso eu preciso muito de sua ajuda.

Você pode contribuir de diversas maneiras. O mais rápido e simples: assinando a nossa newsletter. Isso abre a porta pra gente chegar diretamente até você, sem cliques adicionais. Tem mais. Você pode compartilhar este artigo com seus amigos, por exemplo. É fácil, e os botões estão logo aqui abaixo. Você também pode seguir a gente nas redes sociais (no Facebook AQUI e AQUI, no Instagram AQUI e AQUI e, principalmente, no Twitter, minha rede social favorita, AQUI). Mais do que seguir, participe dos debates, comentando, compartilhando, convidando outras pessoas. Com isso, o que a gente faz aqui ganha mais alcance, mais visibilidade. Ah! E meus livros estão na Amazon, esperando seu Kindle pra ser baixado.

Mas tem algo ainda mais poderoso. Se você gosta do que eu escrevo, você pode contribuir com uma quantia que puder e não vá lhe fazer falta. Estas pequenas doações muito ajudam a todos nós e cria um compromisso de permanecer produzindo, sem abrir mão da qualidade e da postura firme nos nossos ideais. Com isso, você incentiva a mídia independente e se torna apoiador do pequeno produtor de informações. E eu agradeço imensamente. Aqui você acessa e apoia minha vaquinha virtual no Catarse e no Apoia.se.


Ver Comentários (0)

Deixe um comentário

Seu e-mail jamais será publicado.

© Papo de Galo, desde 2009. Gabriel Galo, desde 1982.