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Chorando no Pé do Caboclo

Chorando no Pé do Caboclo

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A Prefeitura da Cidade de Salvador e a Polícia Militar estão sem saber o que fazer. A intensa movimentação de pessoas no Campo Grande tem causado transtornos. Acontece que desde a semana passada, estrangeiros armaram acampamento improvisado na praça. É tanta gente que chegou a atrapalhar o cortejo do 2 de Julho na capital baiana. Quem passa pela região, ouve o lamento choroso, a lamúria reclamona no Pé do Caboclo.

INVASÃO ESTRANGEIRA

Carlos Queiroz, o técnico iraniano, foi o primeiro a chegar. Gritava contra a arbitragem, queria mais 15 minutos de acréscimos além dos 5 dados pelo árbitro, que não vieram. Em seguida chegou Cueva, “ah, seu eu faço aquele pênalti…” Os nigerianos vieram completos, “foi por tão pouco!” A Alemanha também colou na corda do lamentar sorumbático. Por fim, Senegal aterrissou indignado, “por cartões amarelos? Isso lá é critério que valha?”

Foi aglomerando mais gente.

Cristiano Ronaldo pagou uma visita. Apareceu como de praxe: sozinho. Em seguida chegou ele, Messi, também sozinho. Sampaoli tentou aparecer, mas foi impedido pelo atacante argentino. Ficou do lado de fora do portão, implorando, “Pulga, lo puedo pasar?

Iniesta apareceu rapidinho, só pra dar um alô. Com aposentadoria da seleção anunciada, aproveitou para vender as benesses da retirada e da venda de planos de previdência para Messi e Ronaldo. “Vocês vão adorar esse negócio de não jogar mais pelo país. Imaginem o tanto de verões livres daqui pra frente!” Ambos parecem ter se encantado com a proposta. Schmeichel se intrometeu de surpresa. Dizem que trocou passagem de última hora com o croata Modric. E para ainda hoje mais tarde estão previstas as chegadas de mais duas delegações inteiras. O Japão e sua pueril inocência deve chegar já, já. Mas a mais chegada mais aguardada é a da seleção do México.

Esquemas de segurança estão sendo montados para que Layún, o botinudo mexicano que entrou para pegar Neymar como desse, virou alvo principal da intentona internauta nacional. Além de Layún e todo o escrete mexicano, estará presente também Juan Carlos Osório, que como bom aprendiz da linguagem boleiro-brasileira, deu adeus sem admitir derrota merecida, mas sim a articulação de juízes e conspirações internacional. “Se vocês soubessem, ficariam enojados!”, repete Osório, a todo tempo, a todo custo.

PROBLEMA OU OPORTUNIDADE?

Mas toda crise também é oportunidade. Aproveitando-se da situação, alguns baianos têm oferecidos serviços customizados ao gosto da freguesia e faturado um extra que vem bem a calhar no orçamento. Torcedores de Bahia e de Vitória, letrados em matéria de chororô, organizaram workshop de “Técnicas infalíveis de como chorar no Pé do Caboclo: resultado garantido ou seu choro de volta.” A programação inclui mesa redonda com botafoguenses e diretoria palmeirense. Dizem que a sessão mais aguardada é a palestra com advogados do Fluminense.

Ao mesmo tempo, outra abordagem que tem dado lucro é vender colchões. Quem se aventurou, está comemorando. Como é o caso de Osvaldo, vendedor de uma loja de colchões da região. “Rapaz, é só falar pra eles ‘vá chorar na cama que é lugar quente!’ que eles abrem a carteira. E pagam tudo em dólar ou euro, dinheiro vivo, na hora. Tô rico! E o mais doido é que nem choram desconto. Vai entender.” Empreendedorismo, a gente vê por aqui.

PRÓXIMOS PASSOS

Perguntada sobre que atitudes pretendem tomar, tanto Prefeitura quanto Polícia Militar resolveram que era melhor deixar assim mesmo. “Hoje foi de jogo, tá todo mundo numa água da zorra, e você querendo mexer com gringo chorão? Além do mais, fique quieto que ninguém lhe bole.”

Eventuais chegadas adicionais permanecem no radar das repartições. “A gente tem que manter o efetivo em operação, especialmente se a Inglaterra for eliminada amanhã. Rapaz, aí vai ser uma chiadeira danada, uma zoada desgraçada. Tá todo mundo de plantão rigoroso.”

Ainda segundo o chefe da Polícia Militar, o fluxo de peregrinos da choradeira só deve se normalizar depois do dia 15, dia da final da Copa do Mundo. “E é melhor que venha o hexa. Senão o Brasil todo não vai caber no Campo Grande. Aí não vai ter Pé do Caboclo que dê jeito..”

*Gabriel Galo é escritor.

Crônica publicada também no site do Correio da Bahia, em 02 de julho de 2018. Link AQUI!

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