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Qual o conceito do design da Papo de Galo_ revista #6?

Qual o conceito do design da Papo de Galo_ revista #6?

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Desde a edição #5, a Papo de Galo_ revista passou por uma mudança grande, visualmente falando. Primeiro, até o formato da revista mudou, passou a ser um pouco mais “gordinho”. Ela passou a trabalhar com mais elementos visuais para completar o texto, num resultado que se vê claramente melhor agora.

Mas, sim, sobre a pergunta original deste post: qual o conceito do design especificamente para a edição #6 da revista?

Do começo!

Tudo começa na definição de pauta. É a partir da pauta que se vai definir a paleta de cores de cada edição. A #1, das manifestações, mexeu com tons terrosos; a #2, do amor, com azul e rosa claros; a #3, do povo brasileiro, teve o ouro e o verde musgo como linhas principais. A #4, do São João, as cores primárias, amarelo, vermelho e azul foram a base; a #5, dos hospitais de campanha, teve as variações de verde como tônica, conforme paleta militar; e a #6, como já vimos abusou do roxo.

Por que o roxo? Porque é uma cor que gera inquietação. E como o tema era loucura, eu queria, além do roxo, trazer elementos como fonte errática (descontrole) e desenhos (fantasia) para ilustrar as capas, seguindo padrão de cores definido há um tempo com a ajuda de um amigo.

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Mas, primeiro, voltemos à capa.

Ela traz uma espiral, para remeter à ideia de que estamos sendo sugados para dentro de um universo fora da racionalidade. Por isso o texto “Tumbling down the rabbit hole”, que lembra Alice no País das Maravilhas, que volta como crônica depois.

Além disso, tem o subtítulo “não tá fácil pra ninguém”, que é uma mensagem de não-isolamento: estamos todos sendo sugados para dentro do buraco ao fim da espiral de insanidade agravada pelo isolamento. Ou seja, estamos juntos. É, também, união na quarentena. Sozinhos sucumbimos.


O design das capas de cada artigo seguem o racional apontado. Desenhos + cor + fonte = + inquietação. E, de alguma maneira, também indicam sobre o que é o texto.

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Foram 7 artigos inéditos (o editorial e mais os 6 últimos), além de 8 contos resgatados que, óbvio, fazem parte da pauta.

O editorial apresenta a revista. Perceba como a imagem completa o título: a ausência de paz no viver desfigura a gente, transformando-nos num borrão indecifrável, como se tivéssemos nos desintegrado. A ausência de paz leva ao caos, ao descontrole.

Um exemplo de perfeito complemento é o conto “Brain damage“. Para compreender, é preciso ler o texto. Qual a sensação que você tem ao ver essa imagem? Certamente não a de que está tudo bem.

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Outra capa que entrega, mas sem explicar, o conto é a do “Metamorfose ambulante“. As referências estão ali,um crossover improvável –e lunático, óbvio– de Kafka com Raul Seixas.

Até mesmo os contos resgatados tiveram novas capas para a edição da revista. A mais emblemática esteticamente, pra mim, é a do conto “Você se saia!“. A morte é um rascunho-conceito da morte do “Contos dos 3 irmãos”, de Harry Potter. E que encaixou demais com a história que a segue.

Há, apenas uma exceção na revista: a capa do conto “Na trave“. A foto no lugar do desenho ocorre justamente porque é o único que se materializou em outro formato: está presente no meu livro “Futebol é uma Matrioska de surpresas: contos e crônicas da Copa 2018“. É, de alguma maneira, real.

Dentro das páginas de texto, o design foi pensado para oferecer uma leitura mais agradável. O texto sempre se inicia do lado esquerdo. A linha à esquerda funciona como uma espiral desconstruída retilínea, como em um caderno. Há de haver ao menos um pouco de ordem para assimilar a distribuição, pro leitor “se achar” nas páginas. Mas os elementos erráticos complementam a leitura organizada. A fonte está nos subtítulos; as imagens, ilustram a passagem e mudam de lugar conforme fluir melhor.

A última imagem da revista, na crônica “A mancha na porta do armário” é uma busca de retomada da racionalidade, trazendo aqueles que são as pessoas mais importantes da minha vida, aqueles que fazem tudo ter sentido, não importa quão duro seja esta era: meus filhos. É a recondução à normalidade.


Revista, portanto, não é um apanhado de textos sem sentido. É preciso conectar cada item para ter uma fluidez narrativa que feche um ciclo, e o design é peça fundamental nessa tarefa. Todos os detalhes contam. E dá um trabalho danado.

Até agora, é tudo exército de um homem só. Mas a minha ideia é que os desenhos sejam feitos por ilustradores e fotógrafos, REMUNERANDO o trabalho por material autoral. O mesmo vale para colunas assinadas. E seu apoio é fundamental para isso acontecer!

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