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É campeão! Aprecie com moderação.

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Assim gritava as arquibancadas gentrificadas e esbranquiçadas do Maracanã, o maior templo do futebol mundial. Desde 2013, neste mesmo Maracanã, o Brasil não levantava um título, na épica final da Copa das Confederações contra a Espanha.

Convenhamos, foram apenas 4 campeonatos de hiato de lá até cá (duas Copas Américas, duas Copas do Mundo), mas dá a dimensão da urgência constante de vitórias da Seleção. Cria-se um amontoado de exigências que cabem num futebol pentacampeão. Não basta participar, tem que ganhar. Não basta ganhar, tem que dar show.

E a disparidade técnica do Brasil se provou superior, inalcançável para um Peru que se comportou heroicamente. Festa dos jogadores, da comissão, do público. Comemore-se!

Só que a pulga atrás da orelha atormenta. Porque o título veio, na história não será visto com asterisco, especialmente com o passar dos anos. No tempo, vale o troféu. Mas como estamos no agora, há inúmeros incômodos no seguir do futebol de seleções.

O VAR, surgido como exemplo da justiça, viu-se alavanca de polêmicas e, em vez de esclarecer, dificultou a compreensão da arbitragem. Perdem todos: o público que não comemora, o trio de arbitragem que entra pressionado, a TV que não pode reprisar lances antes do ‘de acordo’ da salinha de TV. A ideia é boa, mas a prática não tem sido. Não é que arbitragem favoreça A ou B. A questão é a precariedade e o despreparo dos assopradores de apito.

Os estádios às moscas, com diversos jogos com menos de 15 mil testemunhas evidenciaram uma política de preços que escancara a segregação. O povo não interessa aos gestores do futebol. Aplaude-se as arrecadações recordes. Afinal, o jogo é para quê, mesmo?.

Os custos de manutenção das pomposas arenas têm se revelado um problema para os clubes. E o impacto é visto nos gramados. Bola quica e saltita em campos irregulares, malcuidados. Nas arquibancadas, cadeiras imundas contrastam com telões HD. Todos reclamam, mas quem há de resolver?

O próprio trabalho de Tite pode – e deve – ser questionado. O Brasil não empolga, jogou mal quase todas as partidas. Esconde-se numa tática que engessa ações e não cria alternativas a boas defesas. E fica refém de Philippe Coutinho, em péssima fase, ou de Neymar, que não fez assim tanta falta.

A própria seleção em campo não empolga. Se em 2018 a Copa do Mundo foi estranha, esta Copa América, de jogos tecnicamente pobres, foi ainda mais insossa. Como, afinal, reverter o amor pela camisa canarinho?

Também, os jogadores contribuíram para que o natural afastamento dos jogadores com o público permanecesse. Eles, que vêm da lonjura europeia, alheios aos problemas de brasis com os quais não têm mais contato, choramingam apoios incondicionais. São frutos da insegurança covarde dos favorecidos, implorando para que os amem.

Mas, enfim, ganhou. É campeão. É festa! Agora, por favor, deem licença. É preferível sofrer e torcer pelo clube do coração, apesar dos pesares. Ele está aqui do lado, dependendo de cada um para seguir adiante. E dele, mais do que não querer, não é possível se afastar.

Gabriel Galo é escritor

Artigo sobre o título da Copa América 2019 com Brasil 3×1 Paeru foi publicado também na página 2 e no site do Correio*. Link AQUI!

Esta crônica faz parte da série especial sobre a Copa América 2019 aqui do Papo de Galo. Acompanhe comigo!

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