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A falta que faz

A falta que faz

falta, sem Bahia e sem Vitória

Basta um fim-de-semana sem Bahia e sem Vitória para percebermos o poder do futebol e o quanto faz falta a dupla Ba-Vi. Somos, pois, reféns do torcer!

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O apertado e um tanto caótico calendário do futebol brasileiro apontava, desde seu desenho, que estes sábado e domingo últimos seriam dedicados à Copa do Nordeste. Ele veio e, num capricho do destino, foi apenas vazio e solidão.

É quando sentimos na pele a frieza da abstinência que percebemos o quanto este tal de futebol é poderoso. É vício que domina e, tolos, repetimos que podemos dele nos livrar daqui pra ali, basta querer. Mas como desquerer a paixão?

Nem ao menos podemos comparar este intervalo forçado ao período de virada de ano. Lá, ao contrário de cá, impõe preparação inescapável. Migramos, então, aos campeonatos do estrangeiro, vestindo-nos do time da moda e assistindo a bailes de Messi e cia limitada em gramados que, se buraco houvesse, seria motivo de crise e demissões em massa.

O problema do cá é que a troca de canal bateu forte com o peso da desolação. De que adiantam os clássicos de outros estados, se hão de prestar reverências ao Ba-Vi? Quais os porquês das bolas bem tratadas em arenas respeitosas quando a Fonte Nova fechada estava e fechada ficou?

Relembremos, pois, o parafraseador Fernando Pessoa, que transformou no Portugal o dito que corria a cordel nas bandas de Nazaré e desbravava o sertão como bando de cangaceiros e vaqueiros em fuga da seca: o Camp Nou é melhor que essa lasquera; mas o Camp Nou não é melhor que essa lasquera, porque o Camp Nou não é essa lasquera. A querência é dádiva que supera a estatística.

E nem venha argumentar que o Vitória entra em campo hoje, logo mais. (Aliás, façam-se parênteses, e vejam quão traquinas é este tal de destino. Na sorte das bolinhas lançadas, coube ao Vitória ser agraciado com a partida de segunda. Na desconfiança da idoneidade sobre tal caso, questiono: não seria evidente – e inaceitável – provocação?)

Segunda-feira não é fim-de-semana, assim como sopa não é janta e fruta não é sobremesa. Na segunda o couro come, enquanto sábado e domingo, a gente come é água. São praticamente vidas e mundos diferentes, pois, pois.

Vemos, assim, nascer prematura a época da secagem. Hoje, tricolores secarão rubro-negros para evitar serem ultrapassados na glória pelo torneio hierarquicamente superior. Nos outros dois seguintes, serão secados na vibração energética pela zebra interiorana. É o que resta.

E no perambular zapeando canais atrás de algo que acalmasse a ansiedade, nos deparamos com a realidade incontestável. A de que somos, afinal, reféns desta paixão que nos define. Que dói por percebermos que a abstinência não será evento único , mas recorrente. Que estraçalha por nos alistarmos a times que não engrenam, que têm causado mais desalento que alegrias. Que nos maltrata o juízo porque, se tropeçam no teoricamente mais fácil, imagine o sofrimento contra os bambas e os tais? E o que é tudo isto junto senão o lado que tememos do torcer?

Gabriel Galo é escritor

Pois esta crônica sobre a falta que faz um fim-de-semana sem Bahia e sem Vitória foi publicada na página 2 e no site do Correio* em 08 de abril de 2019.

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