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Quebrando a banca

Quebrando a banca

Em São Paulo, João Dória foi eleito, de maneira surpreendente, no primeiro turno. Começou a campanha no caminho errado, corrigiu o rumo e se tornou o principal candidato quando acertou o ritmo de sua campanha.

Foi o mais político de todos os candidatos. Por quê? Porque soube usar como ninguém os recursos de propagada para ser eleito. Atacou os pontos certos. Campanha exige cara-de-pau, e mostrou que a ele não falta. Foi ajudado, também, pelos seus adversários. Lembremos.

Erundina se prestou a um papel melancólico. Haddad nasceu morto na campanha, metralhado de todos os lados. Sua retomada no final elevou o patamar que foi suficiente para atingir a média dos terceiros colocados em outras eleições. Russomanno não deveria ser efetivamente considerado, sua derrocada, e a alcunha de cavalo paraguaio encaixa, é bastante conhecida.

Quem fez feio, mesmo, foi Marta. Dos candidatos, era a que melhor poderia receber votos mais à direita e à esquerda, e se esbaldar no centro. Começou a campanha sem traquejo, enferrujada pelos anos sem candidatura. Não conseguiu desenferrujar. Foi a campanha inteira mole, e acabou perdendo todo mundo pro Dória.

E onde foi o principal erro de todos os outros candidatos?

No tom da campanha. Haddad (alô, João Santana) foi eleito em 2012 com uma campanha vibrante. Era rápida, ágil, nem dava muito tempo de raciocinar o que era colocado. Era empolgante. Como fez o Dória em 2016. Os outros apelaram para o emocional. Uma musiquinha melada no fundo, e tome tentativa de atingir a sensibilidade do público. Muita defesa e coitadismo de todos os lados. Haja saco de quem assistia. Para políticos de tamanho cacife, não ter percebido que a rigidez e imperatividade do discurso se cria em eleições executivas demonstra uma estupidez sem fim. O PSDB percebeu os erros das eleições passadas e em vez de correr atrás de quem já votava neles (discurso meramente interno, que ceifou Serra e Aécio em nível nacional), abriu para outras castas. Um alento: se apenas o PT soube fazer campanha desde 2002, agora achou concorrente. Finalmente.

Mas tem alguém que ganhou muito mais que o Dória: Geraldo Alckmin.

Lembremos: João Dória foi cria exclusiva do atual governador do estado de São Paulo. O partido estava decidido por Andrea Matarazzo, nome ruim para eleição executiva, hoje sabe-se. Alckmin impôs goela abaixo o nome do tucano eleito. Era uma power play arriscada: se perdesse, minava suas articulações para ser o candidato tucano à presidência em 2018; se ganhasse, eliminaria praticamente toda sua concorrência desde já.

E no final, não é que conseguiu? Uniu mais 12 partidos além do seu na coligação.

Analisou suas cartas, via sua relevância no diretório paulista diminuindo. Foi de all-in e quebrou a banca. Se tanto falam de ele ser meio insosso – adjetivo polido para o popular picolé de chuchu – arregaçou as mangas e mostrou muito mais agressividade do que se esperaria de sua postura. Larga na frente e não deve aparecer ninguém em seu retrovisor, nem Aécio, dentro das primárias tucanas daqui a 2 anos.

Well played, Governor.

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