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Saudades de Naná

Saudades de Naná

(por Paulo Galo Toscano de Britto)

Corria o ano de 1978 e nas veias de adolescente corria um turbilhão de informações estéticas, políticas e afetivas que marcariam toda a minha existência.

Na moldura da antiga Escola Técnica Federal da Bahia surgiu-me diante dos olhos encantados alguns dos mais importantes nomes da música brasileira, reunidos num conjunto de shows, a preços populares, que varreram o Brasil com o nome de Projeto Pixinguinha. Em Salvador, minhas retinas de menino conheceram o Teatro Castro Alves e, nele, gente como Cartola, Simone, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Sivuca, Rosinha de Valença e muitos outros.

Espetáculos que nunca mais esqueceria.

Como não esqueci que o show de Geraldo Azevedo, um desconhecido “ma non troppo”, seria aberto por um tal Naná Vasconcelos, que disseram-me ser um ótimo percussionista de Pernambuco.

TCA lotado, um alarido ensurdecedor. Luzes da plateia se apagam, luz do palco acompanha a entrada de um sujeito baixo, que chega empunhando um berimbau e vestindo bata e calça branca. Palmas protocolares, o alarido permaneceu no mesmo de barulho, alheio à presença do músico, que além de pouco conhecido vinha tirar uma onda, via-se, de tocador de berimbau.

Em Salvador! Humpf!

O moço começa a tirar sons naquele instrumento. Menos de um minuto depois um silêncio sepulcral dominava a assistência. Naná tocou berimbau por quase meia hora, sozinho, ele e o instrumento e nem os suspiros eram ouvidos. Uma apresentação absurda, tava na cara que estávamos todos diante de um artista diferente, muito diferente.

Nunca mais deixei de ouvir Naná. Que bom que sua genialidade, reverenciada mundo afora, está toda aí, registrada, pra quem puder alcançar.

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Fez um ano da morte de Naná Vasconcelos no dia 09 de março de 2017. Um mago da percussão.

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