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Visão aquém do alcance

Visão aquém do alcance

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Se há algo que incomoda na forma como Bahia e Vitória têm conduzido suas gestões é exatamente o fato de somente olhares para Vitória e para Bahia para balizarem seus êxitos. Este bairrismo, se por um lado alimenta a continuidade de uma rivalidade importante para o futebol – não há nada maior que um Ba-Vi, e quem discordar é ruim da cabeça –, por outro limita o campo de visão.

Esperava-se em 2018 um crescimento ainda maior do Bahia. Se atingiu as quartas de final tanto da Copa do Brasil quanto da Sul-Americana, no Brasileirão não passou de um algo frustrante décimo primeiro lugar, além de ter perdido a final da Copa do Nordeste para o azarão Sampaio Correa. Mas bastava olhar para o encolhido e rebaixado Vitória para dar a sensação de que chegaram ao ápice.

Do Vitória, por outro lado, não se esperava tanto. Como havia-se de, já que se instalou no clube uma sequência inegável de dirigentes incompetentes que parecem ter como objetivo único o apequenamento do clube? A derrocada da instituição fez com que se investisse tudo na retomada da hegemonia local em 2018, que além de não vir, montou a estrutura para o rebaixamento no segundo semestre.

Em 2019, uma vez mais, vê-se estagnação.

Ao Vitória, qualquer partida parece campo inexplorável. No Nordeste, mesmo como maior campeão da competição, não consegue vencer um jogo sequer. Na Copa do Brasil, caiu para um inexpressivo Moto Club. Esta queda precoce vai abalar o já apertado orçamento do clube, que se vê preso a jogadores de qualidade questionável e a um técnico que não consegue montar uma estrutura básica de jogo.

Ao Bahia cabia uma expectativa maior. Especialmente na Sul-Americana, eliminado injustamente que foi em 2018 pelo sopro de um apito contestável. Em 2019, no entanto, começou capenga. Foi eliminado com justiça na primeira fase pelo fraco e genérico Liverpool do Uruguai, avançou na bacia das almas na Copa do Brasil e tropeça no Nordestão.

Este travamento ganha mais dimensão e tons de preocupação por conta do contexto. Na semana em que se celebrou os 30 anos do segundo título brasileiro do Bahia, os maiores do estado necessitam urgentemente expandir os horizontes de até onde a vista alcança. Se há alguns anos a rivalidade contribuía para que ambos crescessem, agora serve para definir limites. Fato é que o Campeonato Baiano, com seu baixo nível técnico, não é referência.

Deve-se abrir a visão, instaurar-se um querer mais, uma ambição obstinada. Lembremos de 88, de 90, de 93, de 99. Busque-se o Brasil, o mundo. E na esteira do brio ferido pelo sucesso do outro, ver renascer a rivalidade como alimento saudável para que ambos honrem dignamente sua história.

Bahia e Vitória são muito maiores que uma rivalidade local. São expoentes do futebol de uma região. São identidade de um povo. Portanto, que cresçam, amadureçam, evoluam, ambicionem e façam acontecer. E se der errado, em vez de apontar o dedo para o lado como desculpa esfarrapada, entendam os motivos, se aprumem e sigam sempre em frente.

Gabriel Galo é escritor.

Artigo publicado na página 2 e no site do Correio* em 25 de fevereiro de 2019. Link AQUI!

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