No que chegamos ao Brasil e a pandemia do novo coronavírus neste 2020.
Seria impossível colocar em poucas linhas a história do Pacaembu, Fonte Nova e Maracanã, estádios que já foram de Copa do Mundo, mas hoje oferecem parte de suas instalações para hospitais de campanha.
O Pacaembu, em São Paulo, encerrou atividades no dia 29 de junho. Maracanã e Fonte Nova, no entanto, permanecem operando. E o caso do Maracanã, especificamente, causou desconforto generalizado com a volta do Campeonato Carioca 2020.
Na noite em que o Flamengo bateu o Bangu por 3 a 0, dois pacientes do hospital de campanha do estádio morreram. É certo: não houve vencedor naquela noite de junho. E o futebol morreu um pouco.
A história do uso de praças esportivas como hospitais de campanha apontam para uma tragédia terrível que origina a necessidade e para uma retomada apenas depois de respeitada a devida resguarda.
Os traumas de uma tragédia são severos. É preciso dar tempo para que o local lamba suas feridas, aceite sua nova condição e, enfim, retome as atividades com a maturidade emocional recomendada para que a tragédia não ganhe força novamente tempos depois por conta de um processo de cura acelerado irresponsavelmente.
Em Salvador, a Fonte Nova foi excluída da lista de estádios-sede para a fase final da Copa do Nordeste. Decisão acertada. Por mais que a volta do futebol não seja a ideal dado o momento, é preciso entender que, a continuar como está, estaremos presos a uma quarentena interminável. Voltar, com as devidas precauções, faz algum sentido, se o ponto de partida é o infinito e insuportável isolamento.
Mas tem o famigerado campeonato carioca, aquele que um dia já foi chamado de “Caixão”, em homenagem ao ex-presidente da federação carioca de futebol, Eduardo Viana, conhecido como Caixa D’Água. Em 2020, por fim, o apelido cai como uma luva. Este é, sem dúvida, o “Caixão 2020”.
O inconformismo só cresce quando analisadas as possiblidades de arenas. Com o Engenhão à disposição, o Estádio Luso-Brasileiro na Ilha do Governador, reformado recentemente pelo próprio Flamengo e São Januário, pra ficar somente na capital carioca, qual o sentido de realizar jogos sem torcida no Maracanã?
A mensagem desta escolha é a pior possível. Desrespeita-se não apenas as vítimas da pandemia que sentenciou mais de 70 mil brasileiros à morte, mas faz-se troça dos profissionais que trabalham no anexo do Maracanã e dos pacientes que eles tratam.
Em nome de quê, exatamente? Quais as justificativas se há opções mais humanas para serem escolhidas?
Impossível não atribuir esta volta à pura alienação, que se junta às alianças políticas com pulsão de morte, dinheiro acima de tudo e uma enorme quantidade de simples maldade.
Esta crônica é a última parte de matéria publicada com exclusividade na Papo de Galo_ revista #5. (Páginas 35-36)

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